O mundo da publicidade vive uma transformação silenciosa e, ao mesmo tempo, agressiva. Figuras que não existem estão ocupando espaços antes reservados a pessoas reais. Esse novo cenário atrai olhares curiosos, críticas e principalmente, muito dinheiro. Os rostos criados em ambiente digital passaram a representar marcas globais de forma convincente, ainda que sejam frutos de um processo totalmente artificial. Essa nova tendência está ganhando força com velocidade impressionante e moldando a maneira como o público se relaciona com conteúdos fitness e de estilo de vida.
A presença de modelos digitais em campanhas de saúde, bem-estar e moda esportiva não é mais um conceito futurista. Grandes marcas têm apostado em figuras geradas por softwares para representar ideais de beleza e rendimento físico. Esses perfis, construídos com apelo visual extremamente refinado, não apenas promovem produtos, mas influenciam rotinas e comportamentos. A expansão desse fenômeno levanta questionamentos sobre a imagem do corpo ideal e os limites éticos da comunicação comercial.
Por trás das imagens impecáveis há uma complexa engrenagem de programação, marketing e dados. Cada detalhe do rosto, do sorriso ao contorno abdominal, é cuidadosamente ajustado para atrair visualizações, curtidas e seguidores. Essas figuras, mesmo que inexistentes no mundo físico, interagem com o público, respondem mensagens e até participam de desafios populares nas redes sociais. A sofisticação desses perfis desafia a percepção de realidade de quem os acompanha.
O impacto psicológico é um dos pontos que mais preocupa especialistas. Ao seguir figuras digitais com corpos esculpidos digitalmente, o público é exposto a padrões inalcançáveis. O problema se agrava quando essas representações artificiais ocupam o lugar de influenciadores reais, gerando um ambiente onde a autenticidade deixa de ser valorizada. Para adolescentes e jovens adultos, a comparação com esses avatares pode intensificar inseguranças e distorcer a percepção de autoestima.
Outro aspecto relevante é o mercado por trás dessa estratégia. As marcas que investem nesses perfis buscam retorno rápido, alcance global e controle total da narrativa. Ao contrário de influenciadores reais, os criados por softwares não geram escândalos, não envelhecem, não adoecem e não exigem contratos complexos. Eles estão sempre disponíveis, sempre perfeitos e sempre alinhados com a imagem que o patrocinador deseja transmitir.
A discussão sobre autenticidade no ambiente digital ganha nova dimensão com esse fenômeno. Já não se trata apenas de filtros ou edições em fotos, mas da criação total de uma persona. A conexão emocional do público com figuras que não existem é uma realidade cada vez mais comum. Essa interação, embora pareça inofensiva, revela uma manipulação emocional sutil e eficaz, criada para gerar engajamento e converter seguidores em consumidores fiéis.
Em paralelo, os criadores desses perfis digitais ganham status de empreendedores de alto desempenho. Agências especializadas em produzir e gerenciar esses influenciadores artificiais surgem em ritmo acelerado. Algumas figuras já acumulam contratos milionários, participações em campanhas internacionais e presença constante em publicações voltadas ao público fitness. Tudo isso sem que jamais tenham pisado em uma academia ou tirado uma selfie real.
O debate sobre o futuro da influência digital continua aberto. A ascensão dessas figuras programadas desafia a lógica tradicional da fama e da representatividade. Em um cenário onde o que importa é o impacto visual e o desempenho nas métricas, a fronteira entre o que é humano e o que é código se torna cada vez mais tênue. O público, por sua vez, precisa estar atento para não se deixar seduzir por corpos que não existem, mas que vendem como se fossem reais.
Autor : Gennady Sorokin